PF prende líder de quadrilha que trocava etiquetas de malas para enviar cocaína à Europa

  • 27/07/2025
PF prende chefe de quadrilha que trocava etiqueta de malas para enviar drogas para a Europa Durante dois anos, a Polícia Federal investigou um esquema de tráfico internacional de drogas que operava a partir do Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo. A quadrilha usava funcionários do terminal para trocar etiquetas de bagagens e despachar malas recheadas de cocaína para a Europa, utilizando os nomes de passageiros inocentes. A reportagem é do Fantástico, da TV Globo. A peça que faltava para completar o quebra-cabeça era Renato Machado, de 30 anos, apontado como um dos chefes do esquema. Ele foi preso em uma cobertura em Guarulhos, na última terça-feira (22). Segundo a PF, Renato não era funcionário do aeroporto, mas tinha influência sobre as escalas de trabalho e coordenava a logística dos envios. “Ele não vinha aqui. Ele não era ex-funcionário daqui. Mas ele tinha contatos. É ele que formava as escalas daquele dia para aquele voo, para aquela localidade que a droga ia”, afirmou o delegado da Polícia Federal responsável pelo caso, Felipe Lavareda. Renato não aparecia nas imagens de segurança nem manipulava as malas. “Ele trata tudo de longe, dando as ordens. Às vezes ele pode até ir lá fazer o pagamento, dar uma carona pra alguém, qualquer coisa assim, mas ele não toca na droga”, explicou o delegado. Mesmo à distância, ele se comunicava com frequência com os demais integrantes do grupo, o que permitiu aos investigadores identificar os envolvidos e montar o organograma da quadrilha. O caso ganhou repercussão internacional em março de 2023, quando as brasileiras Jeanne Paollini e Kátyna Baía foram presas no aeroporto de Frankfurt, na Alemanha, com 40 quilos de cocaína em malas que, segundo elas, não pertenciam a elas. “Nós falamos de imediato que aquelas malas não eram nossas”, disseram em entrevista ao Fantástico. As imagens das câmeras de segurança de Guarulhos confirmaram a versão das duas: as etiquetas das bagagens foram trocadas por funcionários do aeroporto, e as malas com droga seguiram para a Europa com os nomes das brasileiras. As imagens mostram que as malas de Jeanne e Kátyna, uma preta e outra rosa, chegaram separadas à área de segurança, vindas de Goiânia. Dois funcionários do aeroporto manipularam as bagagens: um deles trocou as etiquetas das malas originais por outras. Enquanto isso, duas mulheres chegaram ao check-in com outras duas malas, que, segundo a PF, estavam recheadas de cocaína. Elas entregaram a bagagem e foram embora em três minutos. Em um ponto cego das câmeras, atrás de uma pilastra, os funcionários colocaram nas malas do crime as etiquetas com os nomes de Jeanne e Kátyna. As brasileiras ficaram presas por 38 dias e depois retornaram ao Brasil. “Não quero que ninguém na vida passe por isso que passamos”, disse uma delas. Pedro Venâncio, um dos funcionários envolvidos, foi preso um mês depois. Ele aparece nas imagens trocando as etiquetas e, em depoimento, admitiu que receberia R$ 10 mil pelo serviço. “Eu sabia que era uma mala de conexão — uma mala que vem de um lugar e vai para outro. Não para em um aeroporto. Eu receberia o valor de 10 mil reais pra mim.” Do presídio, Pedro escreveu uma carta à avó pedindo perdão: “Peço perdão por estar passando por tantas coisas comigo. Sei do erro que cometi e me arrependo muito.” Outros treze suspeitos foram presos na mesma época. Entre eles, Tamiris Zacharias, funcionária de uma companhia aérea, que usou um guichê desativado para despachar malas com cocaína. Em depoimento, ela confessou que sabia que havia droga na bagagem e que receberia R$ 30 mil. “O valor pago seria R$ 30.000,00 (trinta mil reais) e que o dinheiro seria pago no dia ou no final de semana; que o trabalho consistia em despachar uma mala pela companhia GOL e a declarante estava ciente de que a mala transportava droga que estaria indo para outro país, sem saber informar que tipo de droga tinha na mala e para qual país estava sendo despachada; que a mala já estava etiquetada, informando a declarante que apenas despachou", disse Carolina Helena Pennacchiotti, condenada a 16 anos e 4 meses, em regime fechado, por tráfico de drogas e associação para o tráfico. A investigação revelou uma estrutura compartimentada, em que os executores não tinham contato direto com os chefes. “Às vezes o pessoal que atua aqui de fato, pondo a mão na massa, eles não conhecem quem é o líder. Só sabem por nome, tem uma pessoa no meio e é bem compartimentado. Então é difícil de conseguir subir”, explicou o delegado. A análise de celulares apreendidos levou a novos nomes, como Fernando Reis, o Brutus, que aparece em áudios comemorando o sucesso de uma operação e planejando o envio de novas malas. “Muito obrigado de coração pelo apoio. Vamos focar no próximo aí que tem um essa semana com duas. Tá bom?”, disse ele. Segundo a PF, o grupo também enviou cocaína para França e Portugal, usando o mesmo método. "Um na França que o envio da droga foi no dia anterior ao dia da Alemanha; e um que foi para Portugal em outubro de 22”, afirmou o delegado. Renato Machado, agora preso, era o elo que faltava para ligar os diferentes casos. “A gente tinha apenas o apelido dele. Então não sabia quem era. Tanto é que ele ficou surpreso quando a gente achou ele. Ficou perguntando como é que a gente achou e tudo mais", disse o delegado. As mensagens encontradas no celular de Renato revelam um perfil violento. Em conversas com outros integrantes, ele escreveu: “Vamos embora irmão, vai dar certo, vamos sair dessa pindaíba”, “Achamos o safado que estava caguetando nós, mano”, “Esse cara já era, virou finado”, “Tá um cadáver ambulante.” A PF suspeita de ligação do grupo com o Primeiro Comando da Capital (PCC). O que dizem os envolvidos? As defesas dos envolvidos negam participação ou alegam falta de provas. A defesa de Renato Machado afirmou que toda a narrativa da polícia foi construída com base em suposições e conexões, sem provas ou flagrantes, e que tomará todas as medidas judiciais cabíveis. Já os advogados de Pedro Venâncio informaram que aguardam o julgamento de um recurso para diminuir a pena, por acreditarem que a condenação não levou em conta a importância da confissão. A defesa de Fernando Reis negou a participação no crime da troca de etiquetas das malas e aguarda o resultado de um recurso. No processo, a defesa de Tamiris Zacharias alegou que sua participação no envio de drogas para Alemanha, Portugal e França não indicaria envolvimento com organização criminosa, e por isso recorreu para que a pena-base seja fixada no mínimo legal. A defesa de Fernando Reis também pediu revisão da pena, alegando que o cliente confessou participação no tráfico de drogas para Lisboa, em 2022, mas negou envolvimento no caso da Alemanha, de 2023. Dos 16 presos suspeitos de envolvimento no esquema, 15 já foram condenados — um deles a 39 anos de prisão. Quase todos moravam num raio de dois quilômetros do aeroporto. Com a prisão de Renato Machado, a Polícia Federal considera o caso encerrado. “Troca de etiqueta de um passageiro embarcando e chegando no destino para pegar sua mala, desde esse fato, a gente não teve mais nenhuma informação nesse sentido”, afirmou um dos investigadores. “Esse é o nosso objetivo nas investigações: é chegar em quem está cooptando a mula, em quem está contratando ela, mandando a droga muitas vezes sem chegar nem perto da droga, simplesmente sendo o líder daquele esquema”, afirmou outro delegado da Polícia Federal, Júlio César Baida Filho. Desde a prisão de Renato Machado, segundo a Polícia Federal, não houve novos registros de crimes com esse mesmo modus operandi no Aeroporto de Guarulhos. A corporação considera o caso encerrado, após a condenação de 15 dos 16 investigados. Um dos réus chegou a receber pena de 39 anos de prisão. A maioria dos envolvidos morava num raio de dois quilômetros do terminal. A operação revelou não apenas a sofisticação do esquema, mas também a fragilidade de um sistema que permitia que malas com cocaína fossem embarcadas com nomes de passageiros inocentes. A investigação, que começou com a prisão de duas brasileiras na Alemanha, acabou desmantelando uma rede criminosa com ramificações em diferentes estados e conexões internacionais. Ouça os podcasts do Fantástico ISSO É FANTÁSTICO O podcast Isso É Fantástico está disponível no g1 e nos principais aplicativos de podcasts, trazendo grandes reportagens, investigações e histórias fascinantes em podcast com o selo de jornalismo do Fantástico: profundidade, contexto e informação. Siga, curta ou assine o Isso É Fantástico no seu tocador de podcasts favorito. Todo domingo tem um episódio novo. PRAZER, RENATA O podcast 'Prazer, Renata' está disponível no g1 e nos principais aplicativos de podcasts. Siga, assine e curta o 'Prazer, Renata' na sua plataforma preferida.

FONTE: https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2025/07/27/pf-prende-lider-de-quadrilha-que-trocava-etiquetas-de-malas-para-enviar-cocaina-a-europa.ghtml


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