'Rei das sucuris': pescador que levou mordida rara de cobra vira influenciador e mostra como é a vida no berço das serpentes em MS
06/07/2025
(Foto: Reprodução) Rafael Gandine, de 38 anos, já se deparou com mais de 100 sucuris na natureza. Ele registra os encontros e sustos com as serpentes nas redes sociais. 'Rei das sucuris': pescador que levou mordida rara de cobra vira influenciador
Imagine viver em um lugar onde a natureza proporciona encontros frequentes com sucuris. Esse é o dia a dia do pescador e influenciador Rafael Gandine, de 38 anos, que mora no assentamento Gleba Nova Esperança, em Jateí (MS). (veja o vídeo acima)
Ele já teve mais de 100 encontros com essas serpentes gigantes, muitos registrados em vídeo e compartilhados em suas redes sociais, que têm mais de 1 milhão de seguidores. Em um dos encontros, levou uma rara mordida da serpente.
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"A região aqui é bem preservada, com muita água e vegetação. É o habitat natural das sucuris. Pesco frequentemente, o que facilita esses encontros. Não é todo dia que vejo, mas já tive uns 100 encontros ao longo dos anos", disse Rafael ao g1.
Morador da região desde criança, Rafael vive há dez anos no assentamento. Em 2015, criou um canal no YouTube sobre pescarias e, nos últimos cinco anos, transformou o conteúdo em sua principal fonte de renda.
"Eu só pesco, fiz um canal para compartilhar meu dia a dia, vídeos cozinhando na beira do rio, avistamentos de sucuris.
De acordo com o biólogo e especialista em serpentes Henrique Abrahão Charles, o grande número de sucuris na área se deve à preservação da região.
"A partir do momento em que você tem um encontro de uma fauna bem diversificada, como ele mostra nos vídeos, uma fauna flora preservada, você pode ter sim, um berçário de sucuris, como é o caso dessa região".
O assentamento Gleba Nova Esperança tem pouco mais de 23 hectares de Mata Atlântica e fica a cerca de 10 km do centro de Jateí.
A área ainda está em processo de regularização pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), segundo a prefeitura. O distrito tem mais de 600 moradores.
O pescador e influenciador já teve diversas experiências com sucuris:
🐍🐀Viu sucuri comendo capivara
🌿🍂Filmou sucuri camuflada
😱😱Levou susto com as cobras gigantes
😨🐍Recebeu um bote inesperado
Rafael Gandine conta que já contabiliza mais de 100 avistamentos de sucuris.
Reprodução
Segundo Rafael, a maioria dos encontros ocorreu durante as pescarias. Em maio deste ano, ele não percebeu a presença de uma sucuri e sofreu uma rara mordida. (veja o vídeo acima)
"Elas se escondem muito bem. Já passei por córregos onde parecia não haver nada, mas haviam sucuris escondidas. Este ano fui mordido por uma, acho que pisei nela. Fiquei desesperado e com medo", relembrou.
Durante o incidente, a serpente acabou quebrando um dos dentes que ficou preso na pele de Rafael. Segundo o biólogo e especialista em serpentes, Henrique Abrahão Charles, as mordidas de sucuris são raras e acontecem como uma forma de advertência.
"É raro ser mordido por uma sucuri, quando acontece são todas de defesa, ou seja, alguém foi lá e mexeu com o bicho, pisou ou se aproximou demais, são mordidas de advertência. A gente não tem registros de ataque. No caso dele, ele não viu a sucuri, acabou pisando nela e aconteceu dela dar uma mordida, mas isso não foi um ataque, foi uma defesa".
Rafael Gandine mostra momento em que sofre mordida rara de sucuri
Após o incidente, Rafael buscou atendimento médico e precisou tomar antibióticos para evitar infecção.
"Eu fui para casa, joguei álcool no local onde ela mordeu e fui para o hospital, tive que tomar antibiótico para não ter uma infecção, elas não tem veneno, mas o médico disse que a boca tem muitas bactérias".
O biólogo analisou o incidente e constatou que a mordida é realmente de uma sucuri.
"No vídeo conseguimos enxergar os dentes da maxila e também do palato. Os dentinhos da sucuri são bem fininhos, se não puxar, não rasga, se você puxar, ela rasga a pele. Realmente é um dente de sucuri que ficou preso na pele dele."
Em outra ocasião, em junho de 2021, Rafael se aproximou de uma sucuri enrolada na vegetação, que deu um bote em sua direção.
"Eu estava com um amigo. Vimos uma sucuri no meio da vegetação, tomando sol e parecia estar dormindo. Ela se assustou com a gente, deu um bote e saiu rápido. Foi engraçado".
Segundo Juliana de Souza Terra, doutora em Ecologia e especialista em répteis, a fama de agressividade das sucuris é exagerada e vem dos filmes de Hollywood.
"Existe muito sensacionalismo e informações errôneas sobre a espécie. Ainda temos muito trabalho de educação ambiental, pesquisa e conservação para desmistificar a sucuri. A morte direta por humanos é um dos principais fatores de morte das sucuris", afirmou Juliana.
Sucuris são solitárias e evitam contato com humanos
Juliana explica que as sucuris têm hábitos solitários e são vistas sozinhas, exceto na época de reprodução.
'Rei das Sucuris' vive na Gleba Nova Esperança
Arte g1
"As sucuris têm hábitos solitários. Não é incomum encontrar mais de uma no mesmo ambiente, mas elas não interagem. Apenas na época reprodutiva observamos agregações chamadas de bolo de reprodução. Nessas ocasiões, uma fêmea libera feromônios para atrair os machos para a cópula. No resto do ano, elas são solitárias".
As sucuris são as maiores serpentes do Brasil e estão entre as maiores do mundo. A sucuri-verde (Eunectes murinus) pode atingir até 7 metros de comprimento, mas exemplares com mais de 5 metros são considerados grandes.
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Juliana desmistifica algumas crenças populares sobre as sucuris:
Tamanho exagerado: Relatos de sucuris de 10 metros ou mais são exagerados. O maior exemplar comprovado media 8,80 metros e está exposto no Museu de Londres.
Dieta: Sucuris se alimentam principalmente de peixes, anfíbios e pequenos mamíferos. Casos de predação de animais grandes são raros.
Habitat: Sucuris são semiaquáticas e passam muito tempo na água ou próximas a ela.
Comportamento: Quando confrontadas, preferem fugir para a água, onde são excelentes nadadoras.
Método de predar: Sucuris matam por constrição, enrolando-se nas presas e apertando até a morte por asfixia.
A mordida da sucuri foi analisada pelo biólogo e especialista em serpentes Henrique Abrahão Charles
Henrique Abrahão Charles e Rafael Gandine
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